sexta-feira, 4 de setembro de 2015

Tivesse ele mais idade e perguntar-me-ia porque chorava....
A imagem daquele menino persegue-me dia e noite... aquele corpo frio, gelado, só, completamente só que jazia naquele mar... naquele imenso mar onde a sua familia depositou esperança para fugir da morte e a encontrou. A morte...
Tivesse ele mais idade e não saberia responder.
Não sei como hei-de explicar-lhe um dia tamanha crueldade.
Aquele menino estendido, na posição em que ele dorme tantas vezes descansado nos seus lençóis, que mandei fazer só para ele, aquele outro menino, de 3 anos descansava do terror deste mundo. Adormecera para sempre!
 Angústia numa tentativa de imaginar o sofrimento de um bebé, mas sofrimento maior de um pai e de uma mãe porque eles sim, eles sabem o que somos capazes de fazer. Matar, morrer por ódio. Guerras que apanham e matam inocentes. Vidas ceifadas, vidas destruídas, famílias desfeitas, destroçada, separadas, mutiladas para sempre. Como se pode viver com tamanha dor no coração? Como?? Como??
Aqueles meninos não são diferentes de todos os meninos. Meninos Sírios, acabam de nascer e são rotulados, "refugiados", um nome tatuado no olhar, no coração, na inocência de uma infância roubada, de sorrisos bombardeados, de sonhos destronados.
Jogos de esconde esconde que fazem entre fronteiras, jogam à apanhada a fugir de quem os quer matar, adormecem em qualquer esquina tal é o cansaço. Àqueles pais e mães ninguém diz para não adormecer os bebés no colo, para não dar colo demais que "os vão mimar".
Revolta desta sociedade que somos nós, todos nós. Hipócratas!
Como podemos tratar homens, mulheres, crianças, velhos e novos com tanto desprezo?
Amanhã é outro dia, para nós, para eles é mais do mesmo, e nós vamos continuar a fingir que não vimos, que não aconteceu...
Vamos continuar a preocupar-nos com dinheiro, DI-NHEI-RO, intrigas, mentiras, roupas, carros, casas, temos paz e tiramo-la aos outros, manchamos a nossa mente, as nossas ideias tal a inveja que nos invade. Tal a podridão que nos rodeia.
Se passassemos um dia "deles", de certeza, muitos dos nossos males seriam curados, nem inveja, nem o ódio, nem mentiras voltariam a fazer parte de nós...


Descansa em paz Aylan.. Agora tens que  olhe por ti, olha por todos os outros meninos...

4 comentários:

  1. não há palavras. as tuas fizeram-me chorar, uma vez mais... é inevitável que esta imagem nos fique na cabeça, nos marque para sempre. <3

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    1. É mesmo muito triste... depois de ser mãe certos acontecimentos marcam com uma intensidade diferente...

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  2. Desde o dia que vi essa imagem que penso nesse menino ... Nunca, em 36 anos me tinha chocado tanto e feito pensar tanto em como realmente somos egocêntricos, mesquinhos e fúteis ...
    Um grande beijinho

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    1. É muito verdade, somos mesmo... quem dera a imagem da morte deste menino mudasse alguma coisa... beijinhos

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